Odontologia - Triagem, acolhimento e segurança: o cuidado odontológico frente à hipertensão

Odontologia - 17.05.2025

Triagem, acolhimento e segurança: o cuidado odontológico frente à hipertensão

Com alta prevalência na população adulta, a hipertensão arterial exige atenção no consultório odontológico, desde a anamnese até o encaminhamento médico. Medir a pressão pode ser o primeiro passo para salvar vidas

Do ponto de vista odontológico, o risco não está apenas no procedimento, mas também nos efeitos colaterais dos medicamentos utilizados para o controle da hipertensão
Do ponto de vista odontológico, o risco não está apenas no procedimento, mas também nos efeitos colaterais dos medicamentos utilizados para o controle da hipertensão

Comemorado em 17 de maio, o Dia Mundial da Hipertensão é uma iniciativa global da Sociedade Internacional de Hipertensão, voltada à conscientização sobre os riscos da pressão arterial elevada e à importância do diagnóstico precoce. No Brasil, estima-se que cerca de 30% da população adulta conviva com a doença — muitas vezes de forma silenciosa. Nesse contexto, o consultório odontológico surge não apenas como espaço de cuidado bucal, mas também como ponto de atenção à saúde sistêmica.

Para o Cardiologista especialista em Hipertensão Arterial, Dr. Fernando Nobre, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Hipertensão, “há recomendação nas principais diretrizes sobre Hipertensão Arterial que todo profissional da saúde deva medir a pressão do paciente que avalia. Essa é uma forma importante e necessária para triagem dos pacientes que forem identificados com pressão arterial igual ou maior de 14 x 9 cm de Hg”.

Segundo o Doutor em Patologia Bucal, Dr. Paulo Sérgio da Silva Santos, professor da Faculdade de Odontologia de Bauru (USP) e membro da diretoria do Departamento de Odontologia da Sociedade de Cardiologia de São Paulo (SOCESP), essa triagem começa na anamnese presencial bem conduzida. “É fundamental para uma triagem tanto do indivíduo já hipertenso quanto do que não sabe que é hipertenso”, afirma. Ele destaca que a identificação de informações sobre a doença, o controle, os medicamentos em uso e os respectivos horários de administração permite uma avaliação clínica mais segura, considerando também sinais como vermelhidão facial, sudorese, dispneia, frequência cardíaca, respiratória e aferição da pressão arterial.

Esses dados, complementa, são fundamentais para definir a conduta clínica. “Terão auxílio para a decisão da realização ou não do procedimento, da segurança, da escolha do anestésico, tempo de atendimento e melhor horário do dia para o atendimento”, diz. “Auxiliarão também a decisão do uso de medicamentos para a redução do estresse e consequente controle da pressão arterial para realização dos procedimentos odontológicos de forma mais segura para o profissional e para o paciente.”

O estresse, aliás, é um dos principais gatilhos para o aumento da pressão arterial no consultório, segundo o Dr. Fernando Nobre. “Devemos sempre considerar que o estresse durante o tratamento pode ser, e frequentemente é, causa de elevação da pressão arterial. O emprego de anestésicos com parcimônia não costuma ser um problema”, pontua. Ele também chama atenção para a avaliação do risco cardiovascular em procedimentos simples, sobretudo os que envolvem infecção local que pode alcançar a circulação.

Do ponto de vista odontológico, o risco não está apenas no procedimento, mas também nos efeitos colaterais dos medicamentos utilizados para o controle da hipertensão. “Há uma grande associação com xerostomia e hipossalivação, que comprometem a qualidade de vida, favorecem o aparecimento de infecções oportunistas como as fúngicas e aumento da incidência e prevalência de cárie dentária”, observa Dr. Paulo Sérgio.

Ele ainda destaca que “os anti-hipertensivos do grupo dos bloqueadores de canal de cálcio têm possibilidade de induzirem à hiperplasia gengival medicamentosa, principalmente se associados a imunossupressores e aos anticonvulsivantes”. Nesses casos, o profissional recomenda “um rigoroso controle da saúde periodontal e relacionamento próximo com o médico cardiologista”.

Outro aspecto importante no dia a dia clínico é a detecção da chamada hipertensão do jaleco branco ou da hipertensão mascarada, situações em que o paciente apresenta pressão elevada no consultório odontológico, mas não tem diagnóstico médico confirmado. “Essa condição exige uma parceria com o médico cardiologista, com um contato pessoal, por telefone ou por carta, informando que o paciente ao chegar para o atendimento tem pressão arterial elevada (informando os valores), e que o paciente refere que em outros momentos a pressão arterial está normal”, explica Dr. Paulo. “O contato deve conter a solicitação de investigação de uma das duas modalidades de hipertensão, que será investigada através do MAPA (Monitoramento Ambulatorial da Pressão Arterial), realizado em serviços de diagnóstico.”

Para que esse encaminhamento ocorra de forma segura e consciente, o Cirurgião-Dentista também precisa conhecer os valores pressóricos considerados adequados para atendimento odontológico. “É fundamental que o Cirurgião-Dentista tenha conhecimento dos valores pressóricos de segurança preconizados pela American Heart Association e Sociedade Brasileira de Cardiologia, para não considerar pacientes hipertensos com valores pressóricos que permitam segurança para o atendimento odontológico”, reforça.

Embora o diagnóstico formal de hipertensão seja de competência médica, Dr. Fernando Nobre destaca que o Cirurgião-Dentista tem papel fundamental na triagem e no acolhimento desses pacientes. “O diagnóstico da pressão arterial é de atribuição do médico. Mas, todos os profissionais da saúde — odontólogos obviamente incluídos — têm o dever de avaliar corretamente a pressão arterial de seus examinandos com o objetivo de triagem e, se necessário, encaminhamento adequado”, finaliza.

Por Swellyn França