Coluna Espaço Holístico - Sobre o Corpus Christi

Coluna Espaço Holístico - 19.06.2025

Sobre o Corpus Christi

Santa Cristina
Santa Cristina

1263.
Italia.
Um padre que viaja de Praga a Roma e que tem dúvidas sobre a verdade da transubstanciação – mudança do pão e vinho em corpo e sangue de Jesus Cristo, faz uma parada em Bolsena na Itália e celebra uma missa na tumba de Santa Cristina.

Nascida na Toscana, próximo do lago de Bolsena, em 288 d.C., Cristina morreu com apenas 12 anos, no ano 300 d.C., tendo se tornado mártir medieval dos primeiros séculos do Cristianismo.

Filha de um rude oficial do exército em Tiro, na Etrúria, Cristina se intrigava sobre qual o motivo da serenidade e alegria dos cristãos que eram submetidos a interrogatórios humilhantes por seu pai. Ela passou a admirar e venerá-los, e foi assim que Cristina converteu-se ao Cristianismo, tendo sido batizada por uma escrava.

Após ter sido descoberta a sua conversão e negar-se a abjurar a sua fé cristã, o pai ordenou várias formas de tortura com o único intento de persuasão, mas ela foi salva, segundo a história, por anjos. A menina morreu quando sua vida foi tirada por flechas disparadas contra ela. Cristina dizia que “deixar a vida não me custa; abandonar minha fé, isto nunca!”.

Celebrando, então, a Santa Missa na tumba de Santa Cristina, no momento em que o sacerdote consagrava a hóstia, o sangue escorreu da mesma e banhou o corporal e os linhos litúrgicos.

Impressionado, o bispo correu até Orvieto, onde vivia o Papa Urbano IV, para narrar o que havia acontecido. O Papa enviou o Bispo Giácomo a Bolsena, para que certificasse o ocorrido e trouxesse o linho sujo de sangue. Tendo confirmado o milagre eucarístico do corporal ensanguentado, Urbano IV publicou a bula “Transiturus”, em 11 de agosto de 1264, instituindo a solenidade do Corpus Christi.

Algumas semanas antes, no dia 19 de julho, o Papa, alguns sacerdotes e uma multidão de fiéis fizeram uma solene procissão pelas ruas da cidade. Esta foi a primeira procissão da festa de Corpus Christi, uma festa instituída para adorar, louvar e agradecer publicamente ao Senhor, que “no Sacramento Eucarístico continua a amar-nos até o fim, até a doação do Seu Corpo e do Seu Sangue”.

O milagre eucarístico do corporal ensanguentado ainda hoje se conserva na Sé de Orvieto. Desde então, todos os anos, na cidade, um domingo depois da solenidade de Corpus Christi as ruas são cobertas pelos incríveis desenhos do corporal reproduzidos em pétalas com o precioso relicário conduzido por 400 figurantes vestidos tradicionalmente da época.

Assim, escreveu-se mais um capítulo da história. De um lado, Santa Cristina com seu entusiasmo pela fé cristã, que se entregou de corpo e alma àquilo que acreditava. De outro, o sacerdote que celebrou a missa em Bolsena, cuja dúvida permitiu ao mundo conhecer o milagre eucarístico para reafirmar a fé cristã. Dúvida e crença trouxeram ao mundo um momento sagrado.

Isso comprova que todos os sentimentos são importantes na construção - de uma história, de uma época, do próprio mundo. Dualidade e ambivalência permitem a diversidade, enriquecem a existência, levam-nos à reflexão.

Portanto, lembre-se de que se o momento é de dúvida, de fé, de pressão, de provação, permita-se, acredite e entregue-se a esta experiência, por mais difícil que ela seja. Tenha sempre em mente que jamais está sozinho, que há um plano maior que a tudo rege, e que suas experiências pessoais repercutem no todo, proporcionando a mudança e a construção de uma nova história.

A cada dia somos presenteados com o milagre da vida e com TODAS as possibilidades nele contidas. Disse o autor que o “extraordinário reside nas coisas mais comuns”. Por vezes, esperamos por um grande momento, por uma grande emoção, por um fato inédito, mas é na rotina do cotidiano que se esconde o grande milagre da vida.

E, para finalizar, vou citar Chaplin, que numa de suas célebres citações nos ensina que “a vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos”.

Por Dra Maria Lucia Zarvos Varellis
Especialista em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais, Odontologia Hospitalar e Pós-doc em Biofotônica Aplicada às Ciências da Saúde