Odontologia - 09.10.2025
Odontologia Legal: entre a ciência, a ética e a justiça
Especialistas destacam o papel da Odontologia Legal como elo entre saúde, direito e sociedade, e analisam os desafios éticos, tecnológicos e formativos que moldam o futuro da especialidade

Num cenário de judicialização crescente, avanço da Harmonização Orofacial e incorporação acelerada de tecnologias digitais e inteligência artificial, a Odontologia Legal consolida-se como pilar estratégico para a segurança do paciente, a responsabilidade profissional e a própria credibilidade da Odontologia. Mais do que perícias, trata-se de uma área que estrutura ética, deontologia, documentação clínica, direitos humanos e inovação — com impacto direto no consultório, nas universidades e na Justiça.
Esse panorama aparece nas vozes de dez especialistas entrevistados na edição recente da Revista da APCD.
Dr. Wilson Chediek abre a discussão ao situar a Odontologia Legal como alicerce de ética e transparência no exercício profissional. Na sequência, Prof. Dr. Ademir Franco do Rosário Júnior (SLMandic) amplia o foco para fora do país, mostrando a internacionalização da área e o reconhecimento de brasileiros em organismos como INTERPOL e Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
Conectando tradição pericial e fronteiras tecnológicas, os Profs. Drs. Mônica da Costa Serra e Clemente Maia da Silva Fernandes (FOAr-Unesp) analisam a evolução dos métodos, o impacto regulatório e jurídico da HOF, e defendem o uso criterioso de IA e imaginologia 3D como complemento — nunca substituto — do julgamento técnico do perito.
No mesmo eixo, o Prof. Dr. Rodolfo Francisco Haltenhoff Melani (FOUSP) reposiciona a figura do perito como servidor da Justiça e da democracia, enquanto a Profa. Dra. Talita Maximo Carreira Ribeiro (Unifesp) traz a dimensão humanitária da especialidade: identificação de pessoas desaparecidas e garantia do direito à memória e à verdade.
Voltando à formação, o Prof. Dr. Ricardo Henrique Alves da Silva (FORP-USP, IOFOS, INTERPOL) aponta lacunas na graduação e o crescimento das demandas cíveis, reforçando a necessidade de currículos robustos e atuação qualificada; em paralelo, a Profa. Dra. Flavia Nicolle Stefani Vassallo (Centro Universitário Braz Cubas) propõe metodologias ativas e interdisciplinares (estudos de caso, simulações, visitas técnicas e integração com Direito e Medicina Legal).
Fechando o arco com a prática cotidiana, a Dra. Soraya Monteiro Guedes Fernandez (Câmara Técnica de Odontologia Legal do CROSP) e o Dr. Roberto Shigueru Matsuda (CROSP) sublinham a documentação clínica como prova essencial (prontuário, TCLE, registros) e alertam para ética nas redes, LGPD e novas formas de fiscalização educativa.
O conteúdo ainda aborda a expansão de consultoria odontolegal e auditoria odontológica, a produção científica em centros como OFLab-USP e FOAr-Unesp, e a rede de cooperação internacional que projeta o Brasil como referência.
Por Swellyn França