Um estudo feito pela Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, em Campinas (SP), constatou que as mulheres obesas sofrem calores mais severos durante a menopausa. A explicação está no impacto que o tecido adiposo tem sobre elas. Ele, que já foi considerado aliado durante a transição para o período não reprodutivo da mulher, é, sim, o vilão do processo. "A gente descobriu que as pessoas obesas, que têm índice de massa corporal acima de 30, têm mais ondas de calor e numa intensidade mais forte, mais severa, do que as mulheres que têm peso normal ou sobrepeso", afirma a ginecologista e obstetra Lucia Costa Paiva, que orientou a pesquisa.
A análise traz os resultados da dissertação de mestrado do ginecologista Sylvio Saccomani Júnior e foi realizada com 749 moradoras de 19 cidades na Região Metropolitana de Campinas. A constatação foi reconhecida e publicada na revista norte-americana Menopause, uma das principais sobre o tema, e também foi destaque na agência internacional de notícias Reuters.
O hormônio responsável por evitar as ondas de calor é o estrogênio, que deixa de ser produzido pelos ovários com a chegada da menopausa. Como o tecido de gordura é produtor de estrogênio, chegou a ser visto como uma possibilidade de reposição tempos atrás, mas ele acaba se destacando mesmo como um isolante térmico prejudicial. "Existe no tecido adiposo, mas não o suficiente para amenizar os sintomas. Não adianta ter estrogênio periférico se você tem uma manta muito grande que não deixa o calor dissipar", afirma a especialista.
O efeito pode ser devastador na qualidade de vida das mulheres que sofrem esses fortes calores, por exemplo, chegar a parar de trabalhar e ter reflexos na vida sexual. "Afeta mais as atividades durante o trabalho e muitas vezes param de trabalhar. Elas têm mais problemas na parte sexual e lazer. Então, não é só a onda de calor em si", diz Lucia. Segundo ela, 70% das mulheres que chegam à menopausa têm ondas de calor.
Mapeamento e população
O estudo foi realizado a partir de um mapeamento de áreas e dados populacionais divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Participaram as mulheres na faixa entre 45 e 60 anos de idade de 19 cidades. Lucia e o pesquisador e ginecologista Sylvio Saccomani Jr. usaram um questionário recomendado pelas sociedades internacionais de menopausa. "É um ponto forte do estudo. É um resultado que veio de uma pesquisa populacional brasileira. [...] Íamos para as casas dessas mulheres e fazíamos uma entrevista com diversos aspectos da menopausa. Tem a forma correta de avaliar esses sintomas, medir a severidade", explica a médica.
Para ter representatividade, foram escolhidas duas mulheres por quarteirão, dentro das faixas etárias pesquisadas e separadas por índice de massa corpórea.
Outros sintomas
Além dos calores, a pesquisadora destaca outros sintomas relatados pelas mulheres, como secura vaginal, incontinência urinária e problemas nas articulações. O sono também acaba sendo prejudicado. As reclamações sobre esses sintomas foram aumentando nas mulheres acima do peso. A frequência dos calores pode variar, desde ondas mais fracas, diárias ou até repetidas vezes ao dia. "Dura alguns anos, nos primeiros três a cinco anos depois da última menstruação, normalmente, e depois diminui. Mas, tem gente que [o calor] dura dez anos", ressalta Lucia.
Tratamento
A especialista chama a atenção para a importância dos serviços de saúde pública no tratamento dos sintomas e, principalmente, da questão da obesidade, que também aumenta o risco de problemas cardiovasculares, por exemplo. A perda de peso é crucial e há casos em que a mulher pode fazer reposição hormonal. "As mulheres que conseguem perder peso podem ter melhora dos sintomas da menopausa, somente pela perda de peso. [...] Melhorar a alimentação, perder peso, atividade física. E procurar um médico para ver se é o caso de usar hormônio", completa.
Fonte: G1