Odontologia - Inclusão na saúde bucal: dados atualizados reforçam urgência no atendimento a pessoas com deficiência

Odontologia - 03.12.2025

Inclusão na saúde bucal: dados atualizados reforçam urgência no atendimento a pessoas com deficiência

Com novos números do Censo 2022 divulgados em 2025, desafio de acesso e formação especializada ganha novo peso no debate da Odontologia

A Odontologia tem potencial para ser um instrumento transformador no cuidado às pessoas com deficiência
A Odontologia tem potencial para ser um instrumento transformador no cuidado às pessoas com deficiência

O Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, celebrado em 3 de dezembro, volta a colocar em evidência a necessidade de garantir direitos básicos — entre eles, o acesso ao atendimento odontológico inclusivo, seguro e adequado. Em 2025, a discussão ganha ainda mais força com a atualização dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que revelam um cenário robusto e complexo.

Segundo o levantamento, 14,4 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência, o que representa 7,3% da população com dois anos ou mais. As dificuldades de visão são as mais prevalentes, afetando cerca de 7,9 milhões de pessoas. Os dados reforçam a diversidade de perfis que podem demandar adaptações no cuidado odontológico — seja por limitações motoras, sensoriais, cognitivas ou múltiplas.

Formação ainda insuficiente diante da demanda

Mesmo com a Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais (OPNE) reconhecida como especialidade odontológica pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO), desde 2001, a formação profissional segue sendo um dos principais entraves para ampliar o acesso no país.

Estudos recentes mostram que muitos cursos de graduação continuam sem oferecer disciplinas práticas ou estágios voltados ao atendimento de pessoas com deficiência, o que compromete a preparação inicial do Cirurgião-Dentista.

A especialista em OPNE, Dra. Sofia Takeda Uemura, diretora da Faculdade de Odontologia da APCD (FAOA), reforça essa percepção: “As faculdades nem sempre oferecem disciplinas com atividades clínicas ou estágios em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais. Isso prejudica a formação inicial e reforça a necessidade de especialização e educação continuada.”

Ela destaca ainda que o público da OPNE é amplo e diversificado abrangendo indivíduos com deficiências físicas, sensoriais ou que apresentam alguma condição genética, oncológica, neurológica ou sistêmica cada um com exigências técnicas e comportamentais diferenciadas.

Embora o Brasil tenha hoje mais de 150 mil Cirurgiões-Dentistas especialistas segundo dados do CFO, a OPNE permanece como uma das áreas menos representadas.

A baixa presença de especialistas impacta diretamente o acesso de pessoas com deficiência aos serviços de saúde bucal — especialmente fora dos grandes centros.

A vice-presidente do Conselho Científico da APCD, especialista em OPNE, Dra. Aida Sabbagh-Haddad, alerta para essa disparidade: “Apenas 1.034 (0,7%) profissionais para atender uma população tão ampla é um número muito pequeno. Essa é a primeira grande barreira que esses pacientes enfrentam ao buscar cuidados odontológicos.”

O estado de São Paulo concentra a maior parte desses profissionais, aprofundando desigualdades regionais e dificultando o acesso em municípios de pequeno e médio porte.

Complexidade clínica e necessidade de abordagem individualizada

Além da escassez de especialistas, a complexidade do atendimento é outro obstáculo estrutural. Cada paciente apresenta nuances específicas, e até condições idênticas podem exigir estratégias distintas de manejo. A Dra. Aida reforça: “Cada patologia apresenta particularidades, e mesmo dentro de uma mesma condição, há variações que exigem abordagens personalizadas.”

Esses fatores exigem consultórios preparados, equipes capacitadas, protocolos individualizados e, sobretudo, profissionais capazes de compreender e respeitar as particularidades de cada pessoa atendida.

Inclusão como compromisso ético e social

Apesar dos desafios, há um consenso entre as especialistas: a Odontologia tem potencial para ser um instrumento transformador no cuidado às pessoas com deficiência. Como lembra a Dra. Sofia: “O atendimento odontológico é um direito universal, que deve ser garantido sem barreiras nem exclusões.”

Garantir formação consistente, ampliar serviços adaptados e fortalecer práticas humanizadas são caminhos essenciais para avançar na inclusão — um compromisso que o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência ajuda a renovar anualmente.

Por Swellyn França