Odontologia - 17.07.2025
Solução antimicrobiana à base de cobre desenvolvida na Unicamp permite desinfecção em materiais e utensílios
Método que emprega micropartículas de cobre para revestir superfícies e objetos promove a eliminação de bactérias, vírus, fungos e outros agentes patogênicos

Quando microrganismos como bactérias, vírus ou fungos entram em contato com superfícies compostas por cobre, as reações químicas desencadeadas podem levar à eliminação desses agentes patogênicos em um curto tempo. Por ter propriedades antimicrobianas naturais, no período da pandemia do SARS-CoV-2, as pesquisas sobre aplicações à base de cobre para revestir superfícies de alto contato humano foram intensificadas. No entanto, sua aplicação enfrentava algumas limitações: o cobre é um metal de custo elevado e não oferece resistência satisfatória a impactos físicos.
Essa restrição motivou um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) a desenvolver um novo procedimento para viabilizar o uso do cobre com fins antibacterianos. A solução encontrada foi um método que emprega o cobre na forma de micropartículas, de tamanho inferior ao dos grãos de areia, procedimento que permite incorporar esse metal como componente de tintas, plásticos, soluções líquidas, entre outros. Essa tecnologia permite o uso do cobre em revestimentos de superfícies sólidas, com a vantagem de oferecer uma ação eficaz contra microrganismos nocivos.
“O cobre é conhecido há milênios pelo seu efeito bactericida, virucida e fungicida. No entanto, na forma de metal, ele é relativamente caro, maleável e não tem boa resistência mecânica. Mas não é preciso criar peças inteiras de cobre para usufruir de seus benefícios antimicrobianos. Basta que ele esteja presente nas superfícies, e foi assim que nós desenvolvemos uma maneira de empregá-lo na forma de micropartículas, em uma dosagem necessária para desencadear a ação bactericida onde ele for aplicado”, explica o professor da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp, Éder Lopes, um dos inventores da tecnologia.
egundo o pesquisador, as possibilidades para a sua aplicação são diversificadas. Ele exemplifica: “Quando as micropartículas de cobre são incorporadas a tintas, superfícies podem ser pintadas e oferecer propriedades antimicrobianas; as micropartículas também podem ser misturadas em plásticos, criando assim materiais com esse tipo de ação; ou ainda diluídas em soluções líquidas, para uso, por exemplo, na pulverização de plantas ou vegetais; podem também compor revestimentos metálicos, como os que são comumente usados em instrumentos ou mobiliários hospitalares. ”, observa Lopes.
A diversidade de aplicações da tecnologia também é reforçada pela professora do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, Clarice Arns, que integrou o grupo de pesquisa:
“O aditivo antiviral à base de pó de cobre, quando adicionado a outros produtos, desencadeia uma ação de desinfetante natural onde é aplicado. Por isso, objetos metálicos e plásticos usados em hospitais, quando revestidos dessa composição à base de cobre, são capazes de inativar microrganismos, como o coronavírus. Essa tecnologia também pode ser usada em qualquer outro ambiente de grande circulação, como escolas, transportes públicos, empresas, restaurantes etc.”, detalha Arns.
A professora Laís Pellizzer Gabriel, da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, acrescenta: “Diante das circunstâncias pandêmicas, pensamos em adicionar o cobre em tintas de parede, que serviram como uma base para fixar as partículas. Como ele apresentou as propriedades virucidas, o material teria facilidade de aplicação e grande demanda”, explica a pesquisadora.
Tecnologia da Unicamp é licenciada para uso nas áreas de odontologia e do agronegócio
Até o momento, duas empresas de segmentos de atuação distintos já licenciaram a tecnologia desenvolvida na Unicamp, cujos trâmites para depósito da patente e seus licenciamentos foram conduzidos pela Agência de Inovação Inova Unicamp.
Uma dessas empresas foi a Cuprum Indústria e Comércio, que licenciou a tecnologia com o objetivo de desenvolver instrumentos e objetos usados em ambientes de atendimento à saúde, com foco atual em consultórios odontológicos, visando proporcionar maior controle microbiológico nesses ambientes clínicos. De acordo com Eugênio Tagliari Neto, sócio fundador da Cuprum, a empresa está em fase de desenvolvimento e aprimoramento de utensílios revestidos ou com incorporação estrutural de micropartículas de cobre, que futuramente estarão disponíveis para comercialização:
“Estamos em fase de testes de uso, compatibilidade e funcionalidade em objetos e porta-objetos que não podem ser autoclavados ou tenham manuseio constante e sejam propensos à contaminação. Por isso, acreditamos que a tecnologia irá permitir uma maior proteção contra microrganismos nesses ambientes, oferecendo maior segurança para profissionais e pacientes”, afirma Neto.
A tecnologia também foi licenciada para uma empresa de outro setor, a Valeouro Biotech, especializada no desenvolvimento de defensivos biológicos para o agronegócio. Em seu caso, o objetivo é aprimorar o uso do cobre no combate a pragas em lavouras, como no cultivo de soja, cana, café e laranja, culturas afetadas por fungos e outras ameaças fitossanitárias. Embora esses cultivos já utilizem o cobre, o processo atual é considerado pouco eficiente, com custos altos e geração de resíduos no solo. A intenção da Valeouro é oferecer um novo composto agrícola com a diluição das micropartículas de cobre em uma solução pulverizável nas plantas, visando reduzir a quantidade de cobre aplicada por hectare e minimizar impactos ambientais.
A versatilidade de uso é um dos diferenciais deste invento, conforme explica o professor Lopes: “A tecnologia foi desenvolvida para ser aplicada de várias maneiras, conforme o problema que a empresa deseja solucionar a partir dela. Por isso que há a possibilidade de novos licenciamentos a empresas interessadas em explorar a tecnologia para novas aplicações”.
Fonte Inova Unicamp - Texto: Christian Marra