Bactérias bucais podem se alastrar para outras partes do organismo, mas casos são raros

Atuação do Cirurgião-Dentista nos dias de hoje é focada no combate à infecção

Com a divulgação na mídia do caso da atriz Renata Banhara, que estaria internada em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por conta de uma bactéria no cérebro originária de uma infecção dental - segundo ela, em função de um foco infeccioso em um tratamento endodôntico realizado há muitos anos -, a Associação Paulista de Cirurgiões- Dentistas (APCD) entrevistou o professor associado 2 da disciplina de Endodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (Fousp) e professor convidado de cursos de especialização e aperfeiçoamento profissional na Faculdade de Odontologia da APCD (FAOA), Manoel Eduardo de Lima Machado, para esclarecer alguns pontos do assunto.

Para o professor, em primeiro lugar é fundamental evitar o alarmismo. “Casos como o da atriz são excepcionais, muito difíceis de acontecer. Embora as evidências científicas e o conhecimento cada vez mais aprofundado do corpo humano nos mostrem detalhes da integração entre a cavidade bucal e o restante do organismo - trabalhos demonstram a presença de lesões ou problemas cardíacos de origem dental, outros apontam maior índice de aterosclerose em pacientes portadores de infecções dentais crônicas, problemas de AVC, vinculados a bactérias da cavidade oral etc. -, é preciso destacar que o Cirurgião-Dentista atua justamente com procedimentos de combate à infecção, até por isso cada vez mais se impõe a presença deste profissional em ambientes hospitalares”, salienta Machado. “Por conta do conhecimento biológico, microbiológico e técnico, e do arsenal utilizado pelo Cirurgião-Dentista, o tratamento endodôntico é uma das terapias que apresenta um alto grau de sucesso clínico na Odontologia, com uma taxa de 89 a 92%”, reforça o professor.

Manoel Machado explica que determinadas situações clínicas podem permitir a infecção do sistema de canais radiculares e da própria região apical; ensaios realizados apontam a presença de bactérias do tipo Enterococcus faecalis e outras que não são microrganismos oriundos da cavidade oral, mas que por conta de uma fratura ou de uma exposição da câmara pulpar por lesão de cárie ou acidental pode penetrar mais profundamente. “Nestes casos pode ser observada a formação de uma lesão de crescimento lento, gradual e assintomática, que muitas vezes pode resistir ao mecanismo imunológico e ao tratamento endodôntico convencional. Tais lesões não constituem a maioria, são difíceis de acontecer, mas se presente pode desenvolver uma situação como a da atriz”.

 “Neste sentido, o alerta para o paciente é sempre a prevenção, que ele faça uma manutenção periódica, principalmente daqueles dentes que sofreram restaurações profundas, tratamentos endodônticos, periodontais; observe a evolução das rarefações ósseas para cicatrização ou se existe ainda a presença de sintomas e sinais ósseos sugestivos de patologia periapical. Já para os profissionais, desenvolver ações eficientes e sistemáticas no sentido de evitar que a infecção se alastre. “Realizar o isolamento absoluto do elemento dental para impedir que a saliva ou qualquer bactéria da cavidade oral penetre no sistema de canais radiculares, aplicar com rigor os protocolos técnicos mantendo a cadeia asséptica são fatores fundamentais. Aliado a esta questão é fundamental realizar a restauração dental o mais rapidamente possível, para blindar e manter a desinfecção obtida e devolver o órgão dental as suas funções .Como podemos observar com os conhecimentos de hoje: é primário e fundamental o combate à infecção”, finaliza Machado.