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Em 2013, uma equipe de cientistas identificou um mecanismo que leva células cerebrais à morte e, agora, os pesquisadores encontraram duas drogas capazes de bloquear esse mecanismo, prevenindo a neurodegeneração. Em experimentos com camundongos, os medicamentos provocaram danos colaterais mínimos, e a expectativa é que os testes clínicos em humanos demorem entre dois e três anos, já que um dos remédios já é licenciado para uso comercial. Caso os resultados sejam positivos, uma nova porta será aberta para o tratamento de doenças como o Alzheimer e o Parkinson.
Giovanna Mallucci, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, explica que várias doenças neurodegenerativas, incluindo as demências, têm como fator importante o acúmulo de proteínas malformadas. Na pesquisa anterior, os cientistas descobriram que esse acúmulo dispara um mecanismo natural de defesa, fazendo com que as células cerebrais suspendam a produção de proteínas vitais, e acabem morrendo. Na ocasião, eles descobriram uma droga capaz de retornar com a produção proteica, mas ela era muito tóxica e inadequada para testes em humanos.
Ao longo dos últimos três anos, a equipe testou 1.040 compostos, primeiramente em uma espécie de verme que possui sistema nervoso funcional e serve como modelo experimental. O experimento filtrou algumas drogas, que então foram testadas em camundongos com doenças neurodegenerativas. Com isso, foram identificadas duas drogas capazes de restaurar a produção de proteínas pelas células cerebrais dos camundongos: o cloridrato de trazodona, medicamento antidepressivo licenciado; e o dibenzoilmetano, composto que está sendo testado para o tratamento do câncer.
Nos modelos com camundongos, as duas drogas preveniram o surgimento de sinais de danos às células cerebrais e restauraram a memória de animais, além de reduzirem o encolhimento do cérebro, uma das características das doenças neurodegenerativas. Os resultados foram publicados, no periódico “Brain”. “Nós sabemos que o cloridrato de trazodona é seguro para uso em humanos, então um teste clínico agora é possível para analisar se os efeitos protetivos que notamos nas células cerebrais de camundongos com neurodegeneração também se aplicam a pessoas em estágio inicial do Alzheimer e outras demências. Nós poderemos saber, em dois ou três anos, se essa abordagem pode desacelerar a progressão da doença, o que seria um bom começo para o tratamento dessas desordens”, disse Mallucci, líder dos estudos.
De acordo com a pesquisadora, o cloridrato de trazodona já é usado no tratamento dos sintomas em pacientes com estágio avançado da demência. Os testes clínicos vão determinar se o medicamento é capaz de frear o desenvolvimento da doença quando em estágio inicial. “Estamos excitados com o potencial dessas descobertas”, concluiu Doug Brown, diretor de pesquisas da Alzheimer’s Society. “A pesquisa ainda está em estágio inicial e não foi testada em humanos, mas como uma das drogas já está disponível como um tratamento para a depressão, o tempo para levá-la do laboratório para a farmácia pode ser reduzido”, considerou o diretor.
Fonte: O Globo